Diana Vasconcelos – Estados Unidos da América – Chicago

Diana Vasconcelos – Estados Unidos da América – Chicago

1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade e percurso académico.

Tenho 25 anos, sou natural de Amarante e licenciada em Ciências da Comunicação – ramo de Assessoria de Imprensa, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Acabei a licenciatura em 2010 e em 2011 comecei a tirar uma Pós-Graduação em Business Communication, na Porto Business School.

2 – Desde quando vive em Chicago e por que decidiu ir?

Mudei-me para Chicago no dia 25 de Setembro de 2012. Estou cá há quase 5 meses. Decidi vir porque, sobretudo, gosto do que uma mudança nos proporciona.

3 – Qual é o seu percurso profissional?

Se não estou em erro, comecei logo no primeiro ano da faculdade a fazer trabalhos como promotora e hospedeira. Durante toda a faculdade eu consegui juntar uns trocos a fazer este tipo de trabalhos. Antes de acabar a licenciatura fiz um estágio de 3 meses na Câmara Municipal de Amarante e, quando ele estava para acabar, recebi uma proposta para ir trabalhar numa agência de comunicação, no Porto. Ofereceram-me 150 euros e eu aceitei. Gostava de poder dizer que na altura era muito dinheiro, mas não. Isto foi há cerca de 2 anos! Ao fim de uns meses agradeci imenso por tudo o que tinha aprendido e avisei que me vinha embora. Entretanto, passado um mês, surgiu uma oportunidade para fazer um estágio profissional numa empresa de marketing promocional, também no Porto. Fui a uma entrevista e no mesmo dia me pediram para começar a trabalhar “já na próxima segunda-feira” porque estavam a precisar urgentemente de uma pessoa para fazer a comunicação da empresa. Isto foi em Março. Em Abril eu estava a fazer, de uma forma completamente independente, negócios de muitos milhares de euros com a China. Durante um ano ganhei experiência a trabalhar com o Oriente e a Comunicação acabou por ficar de lado. Quando o meu estágio chegou ao fim, não aceitei a proposta da empresa para continuar e, com o background que tinha da licenciatura e com a experiência que ganhei durante o estágio profissional, abri o meu “negócio”. Comecei a vender peças de bijuteria através no Facebook. Foi uma das primeiras lojas de venda online através desta rede social em Portugal. Investi o meu último salário do estágio em mercadoria e  esse investimento rentabilizou-se de uma forma incrível durante cerca de 9 meses. Não demorou muito tempo até que esta tendência se espalhasse e até que o Facebook fosse invadido por lojas do mesmo género. “Fechei portas” e fui à procura de novos desafios.
Em Março de 2012 surgiu a oportunidade para trabalhar numa startup. Foi na BYDAS – Agência de Comunicação Digital, que eu percebi o que realmente gostava de fazer. Estava a trabalhar como Community Manager e já geria as contas de um número considerável de clientes.
No dia 7 de Setembro, em almoço com os meus colegas e com um dos sócios da BYDAS, recebi um telefonema no qual me propuseram vir trabalhar para Chicago como babysitter. Quando desliguei o telefone, já todos tinham percebido pela conversa que eu me ia embora.
-“Vais ganhar bem, pelo menos?”
-“Não faço ideia de quanto vou ganhar!”

4 – Foi sempre seu desejo viver/trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necessidade?

Já há bastante tempo que eu andava a pensar em sair de Portugal. Achava que uma experiência fora só me podia fazer bem. E estava certa. Contas feitas, ganho praticamente o mesmo que estava a ganhar em Portugal. Mas não há salário chorudo que pague o nosso crescimento pessoal.

5 – Em que projeto é que está envolvida?

Como já referi, estou a trabalhar como babysitter. Pode não parecer, mas “gerir” crianças é um grande projeto!
Além disto, eu faço parte da ATHOS – Associação de Trabalho Humanitário e Organização Social. A ATHOS agrega, de uma forma incrível, o empreendedorismo e o trabalho social. Eu sou uma das 3 pessoas que está responsável pela Comunicação. É de salientar que estamos a organizar em Amarante um evento com cunho a nível mundial: o TEDx. O TEDxAmaranteED, assim se chama, vai ser já no próximo dia 2 Março e queremos, com ele, espalhar ideias inovadoras pela cidade e promover a discussão sobre a importância e o futuro da educação.

6 – Foi dificil arranjar emprego e como conseguiu?

Difícil não foi… eu não estava à procura! Quando eu pensava em sair de Portugal, pensava geralmente no Brasil. Tinha enviado o meu CV a uma pessoa com contactos no brasil uns dias antes de receber o tal telefonema que me trouxe para Chicago, mas que logo ficou sem efeito.

7 – Conhecia alguém em Chicago que tenha ajudado na sua integração?

Não conhecia ninguém e, durante cerca de dois meses, não fiz questão de conhecer. Aproveitei todo o tempo livre para conhecer Chicago e passear por esta cidade encantadora. Entretanto fiz alguma pesquisa e, apesar da comunidade portuguesa em Chicago ser praticamente inexistente, fui conhecendo alguns portugueses que sempre foram muito, muito prestáveis.

8 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?

Não foi nada difícil. Não vou mentir e dizer que não houve coisas que me fizeram alguma confusão. Aqui é tudo à grande, literalmente. Mas se vim para a América e se quero realmente tirar partido desta experiência, só tenho de agir como eles. Só tenho de pensar e fazer “grande”.

9 – O que gosta mais no país onde está?

O que mais gosto nos Estados Unidos… É uma pergunta difícil porque isto é tão enorme que o que eu conheço é praticamente zero. Mas mais do que as pessoas, mais do que certos bons costumes, mais do que a “junk food”, o que eu vou levar no coração é esta cidade. Chicago é uma cidade que aquece mesmo quando estão -20ºC. Ainda não consegui encontrar palavras para descrever o que acho desta cidade. Mas sempre que levanto o pescoço para conseguir enxergar os grandes edifícios sinto uma enorme vontade de desbravar o mundo.

10 – Que visão tinha da vida dos emigrantes antes de partir para Chicago e que visão tem agora?

Há poucos dias uma amiga minha partilhou comigo um artigo de opinião em que o autor dizia que “emigrar deve ser das palavras mais feias do nosso dicionário. Se a aldeia é global, então eu não emigrei, globalizei-me.” E eu faço dele as minhas palavras porque eu não saí do país porque não tinha alternativa. Saí porque quis.
E não quero parecer presunçosa, nada disso. Ainda para quem sai por necessidade, porque teve que ser, há sempre muitas coisas a favor. Há sempre tanto para aprender! Este é um tema delicado e que pode ser visto de maneiras completamente distintas.
Mas se temos o mundo diante dos nossos pés, vamos então aceitar o desafio. Se quisermos, se formos bons, se dermos de nós o que realmente valemos, podemos ir muito longe onde quer que seja. Gostava só de acrescentar, para que fique esclarecido, que apesar de eu não ter vindo pelo dinheiro isto não quer dizer que ele não me faz falta. Posso até adiantar-vos que tenho pouco mais de 250 euros na minha conta.

11 – Vai continuar a viver em Chicago? Gostaria de trabalhar/viver noutro país? Qual? Porquê?

Sinceramente não sei se vou continuar a viver cá. Enquanto cá estiver vou aproveitar ao máximo para conhecer o que conseguir. Ser babysitter não é propriamente o meu trabalho de sonho! Estou sempre à procura de novos desafios e continuo a ter o “bichinho” do Brasil. Se alguém que está a ler esta entrevista souber de alguma vaga nem que seja para continuar a ser babysitter no Rio de Janeiro que me deixe saber por favor. Adoro fazer malas!
Além do Brasil, aceitava de bom grado ir para a China, Turquia, Japão, Argentina, Itália… (fico por aqui senão esta lista fica muito extensa).

12 – Com que frequência vai para Portugal e o que pensa da situação económica do país?

Desde que cheguei a Chicago ainda não fui a Portugal, nem vou até Junho. Em Junho vou concluir este objetivo de viver uma temporada fora. Espero ter outros desafios como este reservados para mim, noutros países.
Em relação à nossa situação económica é, sem dúvida, triste. Somos um povo trabalhador, um povo que se esforça muito. No final, o que consegue, é muito pouco. Merecemos mais e não nos devemos calar. Porque “quem cala, consente”