Ela é cientista e não desistiu do sonho de seguir investigação

Licenciada em Ciências Biomédicas e Mestre em Biomedicina Molecular, Marta Cova sempre sonhou com uma carreira científica. Obstinada em perseguir esse objetivo, em 2014, concorreu a uma das 10 bolsas ITN Marie Curie, do projeto GlycoPar, ficando com uma. Hoje, vive e trabalha em Barcelona.

Natural da Serra da Estrela, a cientista de 24 anos afirma que o que a motivou a sair de Portugal “foi a necessidade”. “Eu sei que quero seguir em investigação e infelizmente a realidade que Portugal enfrenta não é a ideal para nós intitulados de cientistas”, adianta a própria ao Emprego pelo Mundo.

Os apoios para a área no nosso país resumem-se à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que disponibiliza poucas bolsas e requerem, na maioria das vezes, elevada experiência profissional. Estes fatores dificultam a vida para quem está apenas a começar.
Logo após ter terminado o Mestrado, na Universidade de Aveiro, Marta tentou concorrer a uma das bolsas da FCT, mas não conseguiu. Viu-se obrigada a deixar de lado a carreira científica e começou a trabalhar como coordenadora de Ensaios Clínicos no Centro Hospitalar Cova da Beira, na Covilhã.

O trabalho agradava-me mas não desistia de perseguir a minha carreira científica e através de um antigo professor e orientador tive conhecimento do projeto GlycoPar”.  Este projeto oferecia 10 bolsas ITN Marie Curie para fazer o doutoramento especializado em glicobiologia e parasitas. Marta afirma que ficou surpreendida quando soube que uma das bolsas lhe pertencia.

A cientista abraçou com entusiasmo o desafio que representa estar noutro país, aprender novas culturas e formas de vida conciliando tudo isso com uma experiência profissional enriquecedora. Conta-nos: “Nunca tinha estado em Barcelona antes. A cidade é espantosa! Exatamente como eu a imaginava…cheia de vida, multicultural e bastante ativa! A rede de transportes públicos é fenomenal! Quase sempre me desloco em bicing (sistema de transporte público de bicicletas) para qualquer sítio.”
Em Barcelona, teve o auxílio de uma prima para se adaptar ao ritmo e costumes da cidade e não baixar a cabeça perante as saudades de casa, dos amigos e da família. “Nas duas primeiras semanas nem te apercebes do que significa estares fora porque passas o tempo livre a explorar a cidade e a descobrir coisas novas, mas depois realizas que vais passar a fazer toda a tua vida ali e as coisas podem tornar-se bastante complicadas”, explica.

As condições de trabalho e o nível de vida

Em Barcelona, Marta trabalha num laboratório no centro da cidade, com um horário flexível, onde tem acesso a tecnologia de ponta da área. A qualidade de vida é bastante elevada. “É claro que o custo de vida também é elevado, mas os salários também são mais altos”, realça.

“O melhor de trabalhar em Barcelona é poder fazer o que gosto e ainda por cima receber bem para o fazer. Além disso as ITN da Marie Curie permitem-me aprender com os melhores da área de especialização que escolhi. O pior de viver e trabalhar em Barcelona é não ter a família nem os amigos por perto” acrescenta.

Para Marta, o melhor de viver em Barcelona é poder explorar cada recanto da cidade, embelezada com monumentos esplendorosos e animada com os espetáculos de cada bairro (por exemplo a Festa Major de Gràcia).

A cientista não tenciona voltar a Portugal nos próximos tempos. “Infelizmente, em Portugal, estamos estagnados e não se aposta forte na Ciência. Temos óptimos centros de investigação, óptimos investigadores, mas o financiamento é escasso”. Contudo, Marta reconhece que se fazem coisas boas no nosso país e acrescenta que tem muito orgulho “das pessoas que todos os dias lutam para que a Ciência em Portugal evolua”.

Marta aconselha a todos os que pretendem siar do país e que são da área para não terem medo de arriscar: “Na área de investigação, cada vez somos mais os que saímos de Portugal em busca de um sonho. Arrisca, concorre, vive um dia de cada vez…em Portugal ou fora”.