Ivo Abreu – Espanha – Madrid

Ivo Abreu – Espanha – Madrid

1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade

Tenho 28 anos e nasci no Porto.

2 – Pode-nos falar um pouco sobre o seu percurso académico e profissional?

Licenciei-me em Tecnologias de Comunicação Multimédia (ramo audiovisual) no ISMAI. Antes de finalizar os estudos realizei um estágio ao abrigo do programa PEJENE na Fundação da Juventude e posteriormente foi-me proposto realizar o estágio curricular nessa instituição. Após a conclusão da licenciatura estive a trabalhar como freelancer, em duas agências de comunicação.
Em 2011 decidi apostar num mestrado em direção de arte em publicidade, na Universidade de Vigo, com o intuito de evoluir na área da criatividade publicitária. Como o mestrado tinha uma forte componente prática, tive acesso a um estágio numa agência de publicidade em Madrid, onde estive três meses. Após terminar fui contratado para ocupar o cargo de diretor de arte de um supermercado biológico online, onde me encontro atualmente a trabalhar.

2 – Desde quando vive em Espanha e por que decidiu ir?

Em “part-time”, desde Setembro de 2011, pois o Pólo da Universidade de Vigo situava-se em Pontevedra, dada a curta distância ao Porto, só ficava de quarta-feira a sábado, isto é, nos dias que tinha aulas. Em finais de Julho de 2012 foi quando me mudei para Madrid, aquando do início do estágio.
Em pesquisas na internet, descobri o mestrado em Pontevedra e decidi que era o momento ideal para investir em mais uma etapa na minha formação. Com a experiência no mercado de trabalho foi mais fácil eleger a área que queria seguir, algo que não tinha tão claro na altura em que terminei a licenciatura.

3 – Foi sempre seu desejo viver e trabalhar fora de Portugal ou tratou-se de uma necessidade?

Desde os tempos de faculdade que tinha a ideia de um dia sair de Portugal, nem que fosse por uns meses para poder ter acesso a outros estilos de vida e descobrir o “olhar” de quem vê de fora o nosso país. Não se tratou de uma necessidade expressa, antes uma oportunidade, estava numa fase de procurar novos desafios e por isso aproveitei e acabei por concretizar a ideia.

4 – Conhecia alguém em Espanha que tenha ajudado na sua integração?

Quando cheguei a Pontevedra e a Madrid não conhecia ninguém, foi o “cair de paraquedas”. Contudo, entre a agência e os companheiros que partilhavam apartamento comecei a fazer amizades. Em Setembro, o meu irmão esteve também em Madrid, ao abrigo do programa Erasmus e um colega que frequentou o mestrado comigo veio realizar um estágio na mesma agência, ajudando assim na integração.

5 – Sendo um país muito próximo, sentiu muita diferença cultural? Por vezes existe alguma fricção entre dois países vizinhos. Sentiu isso de algum modo?

Embora seja o país vizinho nota-se alguma diferença na mentalidade e na forma de encarar os problemas. Consegui aperceber-me ainda durante o mestrado que havia uma forma mais relaxada de resolver as situações, sem estar a pensar muito e a agir mais.
A outra diferença que detetei foi o respeito pelo próximo. As pessoas saúdam-se quando chegam a uma loja, quando se cruzam num corredor…seguram a porta para nos deixar passar, nos passeios a caminhar se veem que quem vai atrás vai a um ritmo mais acelerado encostam-se à direita. Pequenos gestos que fomos perdendo em Portugal mas que continuo a apreciar.
Relativamente à suposta rivalidade entre Portugal e Espanha, na minha opinião, é um mito. Em Portugal pensamos que os espanhóis odeiam os portugueses e em Espanha julgam que nós os odiamos, mas na realidade isso não acontece. Tanto em Pontevedra, onde convivi com colegas de todas as partes de Espanha, como em Madrid, as pessoas não ligam ao facto de ser português, bem pelo contrário, ficam surpreendidos com a facilidade com que aprendemos a língua espanhola, por exemplo.
Somos bem tratados, e inclusive já tive o privilégio de ouvir “A Portuguesa” enquanto estava a trabalhar.

6 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?

Para mim foi uma surpresa a facilidade com que me senti integrado ao fim de poucos meses. Tanto a nível pessoal, como profissional. Penso que o facto de falar o idioma ajudou a quebrar algumas barreiras linguísticas. Espanha tem o problema das dobragens que dificulta a aprendizagem de outras línguas. Ligar a televisão e ver “Family Guy” em espanhol ou ir ao cinema e o nome dos filmes nos cartazes estar traduzido, revela uma menor predisposição para aprender, por exemplo, o inglês.

7 – Tem alguma experiência caricata que nos possa contar sobre a sua mudança para o estrangeiro?

Recordo-me do primeiro quarto que aluguei. Cheguei a Madrid numa sexta-feira à tarde e começava o estágio na segunda-feira seguinte. Fiquei hospedado num hostel na primeira noite. No sábado, depois de muito procurar decidi ficar num apartamento relativamente perto da agência. Foi uma autêntica aventura, desde o wi-fi que o rapaz com quem partilhava casa, literalmente, roubava as passwords da Universidade Complutense, até ao seu passatempo favorito de ficar no quarto ao pé da porta a olhar o infinito. Só consegui ficar duas semanas, encontrei uma casa mais “normal”. Na altura das mudanças, habituado a ter carro para tudo, só me ocorreu que para me mudar teria de colocar tudo em sacos plásticos e caixotes e ir de metro com os pertences.

8 – Com que frequência vem a Portugal?

Dada a oferta de voos desde Madrid, tento ir ao Porto de dois em dois meses.

9 – Do ponto de vista de uma pessoa que esta empregada em Espanha, o que e que o nosso país tem de errado?

Na minha opinião, o nosso país precisa de se focar na ação, em agir com um pensamento positivo e deixar para trás aquilo a que chamo “culpabilização alheia”. O importante não é focarmo-nos em quem está a culpa pois isso não muda nada. Que adianta acusar os jovens de falta de ação se o modelo de educação das nossas escolas está formatado para seguir padrões, não arriscar, não empreender.
Melhor será pensar que o mal está feito, viveram-se anos de incentivo ao consumo e claro de consumismo, agora cabe a cada um fazer um trabalho extra para voltarmos a ter um país à imagem da nossa história.

10 – O que aconselha aos portugueses que vivem em Portugal e encontram-se desempregados?

Antes de tudo acreditarem nas suas capacidades. O facto de estarem desempregados não é nenhuma avaliação às suas competências. Manterem-se ativos. Este ponto é para mim fundamental, participar em eventos, dialogar com outros profissionais, criar objetivos e metas a alcançar…para que o ritmo laboral não desvaneça por completo. Por último, não desistir de procurar uma oportunidade.