Viver em Tóquio: a história de uma arquitecta que se apaixonou pela cultura japonesa

Ana Menino Silva foi para o Japão, após concluir o mestrado em arquitectura, com a perspectiva de um estágio de três meses. No entanto, mais de nove meses depois, a arquitecta de apenas 25 anos, continua em Tóquio e conta ao Emprego pelo Mundo que “regressar a Portugal está fora do horizonte”.

Deixar Portugal em busca da “primeira experiência profissional enquanto arquitecta”, era já um dado adquirido para Ana que, ao estudar um ano na Suiça, ao abrigo do programa Erasmus, comprovou que deixar Portugal não deve ser encarado como “uma obrigação ou um aspecto negativo, mas antes, como a possibilidade de um enriquecimento não só a nível profissional mas também pessoal”.

“O deixar o país não é um assunto contemporâneo e, no caso de Portugal, penso que se tratará antes de uma constante estrutural da nossa sociedade”, pensa a arquitecta, recordando que “há 50 anos os portugueses o faziam sem qualquer informação do que se passava para lá da fronteira”. Protegida pela “inconsciência” e sem conhecer ninguém na cidade, Ana arriscou e, hoje, vive com um grupo de japoneses, em Shibuya, um dos bairros mais icónicos de Tóquio, convivendo diariamente com uma cultura na qual “o trabalho é sinónimo de prazer e não de obrigação”.

Deixar a família foi o maior obstáculo que Ana Silva teve que enfrentar ao embarcar nesta aventura. “Há algo na separação que coloca em causa qualquer esforço profissional ou pessoal. No entanto, é esse mesmo sacrifício que torna tudo possível”. O ritmo e qualidade de vida, a “oferta cultural e palpitação constante, abafam por completo esta questão”, partilha Ana, recordando que “os japoneses trabalham durante imensas horas. No entanto, a relação que têm com o sono é também curiosa. Além de dormirem de pé ou sentados no metro ou comboio, é também perfeitamente aceitável dormir uma sesta durante o horário de trabalho. Esta postura reflecte-se invariavelmente na cidade e, de facto, Tóquio nunca chega a adormecer”.

“Durante a noite grande parte dos arranha-céus – que invadem a cidade por todo o lado – encontram-se (ainda) iluminados, existe o hábito do jogging nocturno e, confesso que grande parte das compras que faço são também durante a noite”, conta a jovem arquitecta, num êxtase que confirma que ainda se encontra “demasiado deslumbrada para realçar qualquer faceta menos positiva de Tóquio”.

Com um nível de vida que Ana considera “extremamente vantajoso”, Tóquio apresenta discrepâncias em relação ao quotidiano em Portugal. Por exemplo, a primeira fez que pagou cerca de 2,50 euros por uma maçã, ficou na memória da jovem, que considera que “o custo de habitação é também elevado, o que explica os mini-apartamentos que preenchem a cidade”.

Após mais de nove meses em Tóquio, Ana fala de uma adaptação que ainda se encontra em execução. “É um desafio constante que acredito profundamente ser impossível de atingir um estado pleno”, conta ao Emprego pelo Mundo, acrescentando que “há algo inerte à cultura japonesa que se torna impossível de acompanhar”.

O choque cultural a que Ana Menino Silva estava prestes a assistir, estava longe da sua imaginação. “Há hábitos que nunca conseguirei compreender, por exemplo, os japoneses adoram uma boa fila! Encontram-se por todo o lado, não se sabe de onde vêm e não se sabe para onde vão, simplesmente existem. Achei que seria fácil comunicar através do inglês: afinal é praticamente impossível”, descreve.

“No entanto, existe um outro conceito que minimiza qualquer barreira linguística: o respeito pelo outro”, relata, explicando que este se torna “óbvio quando se pensa que, numa área metropolitana onde se movimentam diariamente 37 milhões de pessoas é praticamente impossível encontrar qualquer papel no chão”, comenta Ana, salientando que “este processo de adaptação acaba por ser mais uma experiência enriquecedora a que tenho o privilégio de assistir e nunca um obstáculo”.

Enquanto arquitecta, Ana Menino Silva, descreve a experiência de trabalhar em Tóquio um privilégio em termos profissionais, já que “existe na arquitectura japonesa uma ausência de preconceitos culturais e históricos que tornam a sua prática invulgar e estimulante”, explica, enquanto descreve que o caos constante de uma megacidade como Tóquio que, “a longo prazo, pode ser esmagadoramente exaustivo para o estrangeiro”, é embalado pela “diversidade, segurança e organização” que a distinguem e tornam única.

Apaixonada pela dinâmica, cultura e pelo modo prazeroso com que os japoneses vêem o trabalho, Ana afirma que “para já, regressar a Portugal está fora do horizonte” e recomenda “audácia, determinação e perseverança – o kit necessário para se arriscar nesta aventura”.