Vantagens e desvantagens do empreendedorismo

Depois da última grande crise financeira, neste cantinho da velha Europa, começou-se a falar muito de empreendedorismo, um conceito que nos faz lembrar uma cultura mais americanizada e que está muito ligado às novas tecnologias da informação e a toda a revolução que estas têm trazido: a tecnologia ajuda a resolver problemas e trazer inovação a muitos sectores da economia.

Ser empreendedor não é uma moda

Os pressupostos do empreendedorismo podem ser realmente úteis para nós, uma vez que precisamos de muitos impulsos para fazer crescer a economia de forma sustentável, criando valor na cadeia produtiva, e fazer florescer as pequenas e médias empresas. No entanto, esta ideia (que sempre existiu em vários modelos) tem de ser encarada como uma escolha consciente, um caminho de convicção e vocação, e não uma moda a que qualquer um pode aderir. É falso que qualquer um tenha perfil para ser empreendedor.

Precisamente por isso, elencamos vantagens e desvantagens de uma decisão deste tipo. Antes de qualquer coisa, não nos devemos esquecer de uma reflexão sobre tudo o que já fizemos profissionalmente, o que queremos fazer, a formação que temos (e a que buscamos), as nossas prioridades e vida pessoal.

Desafios a ultrapassar

– Tudo depende de si, não consegue realizar tudo/não tem mão de obra especializada: se quer mesmo ter um negócio/projecto próprio tem de ter uma ideia clara do que quer fazer, um plano de negócios ajustado, muita crença pessoal e empatia com o que está a fazer e ainda perceber a progressão e a capacidade de fazer o negócio evoluir. É preciso ter muita força de vontade e compreender que não pode fazer tudo sozinho. Terá de fazer formação ou ir buscar quem tenha conhecimento especializado. Ninguém pode perceber de todas as áreas em simultâneo.

– Pagar impostos e lidar com a insegurança financeira: uma empresa, projecto ou associação implica lidar com burocracias e obrigações fiscais pesadas, obrigações com a segurança social e lidar com a insegurança financeira inerente a quase qualquer ramo de actividade. Precisa de se munir de recursos, conhecimento e organização e ter um espírito construtor e de foco nas soluções e não nos problemas. Embora o empreendedorismo esteja a ganhar fôlego em Portugal e haja agora mais fundos, apoios e aconselhamento a que se pode recorrer, somos ainda conhecidos por não oferecer muita estabilidade fiscal para as empresas.

– Ansiedade e stress associados à responsabilidade: por muito brilhante que seja a sua gestão e por muito que o negócio seja mesmo adequado para si, vai haver alturas menos fáceis, em que terá dificuldade em ultrapassar obstáculos, fazer crescer o negócio, fazer uma boa gestão de recursos humanos ou responder a obrigações familiares e ter tempo para si. É preciso ter resistência para tudo isto, nomeadamente a nível de equilíbrio emocional e continuar a cuidar da saúde, do sono e do equilíbrio.

– Correr riscos e saber perder: a capacidade de correr riscos tem de estar sempre presente num potencial empreendedor. Só assim aprende e cresce e só assim faz sentido existir no mundo empresarial. Terá de saber à partida que vai arriscar muitas vezes e perder: tempo, dinheiro e paciência. Mas só assim fará melhor neste ou num próximo projecto. Parafraseando o dramaturgo Samuel Beckett, ‘falhar, voltar a falhar e falhar melhor’, devia ser a filosofia de qualquer pessoa que se quer lançar nesta aventura. É claro que se a sua personalidade, filosofia de vida ou objectivos familiares não vão por aí, e prefere a estabilidade e um menor grau de responsabilidades, o seu caminho não é este. O importante é reconhecê-lo. Mas não por medo, que é a via errada. Todos os empreendedores têm (e devem ter) um certo grau de ‘medo’, desde que não seja paralizador. Se não avançar, a razão deve assentar no perfil psicológico e nos objectivos. Muita gente gosta de sonhar acordada, mas nem todos têm a resiliência para estarem comprometidos, por muito tempo, com os sacrifícios que o sonho também implica.  

Descubra o lado solar

Fazer o que gosta: este é o primeiro ponto e um dos que mais se destaca. Costuma dizer-se que quando se faz o que gosta nunca se trabalhará, e esta é sem dúvida uma questão de muitos trabalhadores ao longo da vida profissional. Ser feliz no trabalho é ainda um privilégio de uma pequena parte da sociedade. E temos de reconhecer que a percentagem de horas que passaremos a trabalhar ao longo da vida é altíssima. Para ser feliz, não precisa de ter um grupo de empresas cotado em bolsa. Um pequeno negócio de bairro ou uma associação que gere alguns postos de trabalho pode ser um caminho.

Ter autonomia: quem não gosta de poder decidir uma escapadinha de férias inusitada, passar uma tarde com um filho ou fazer uma formação que lhe interessa, sem ter um horário absolutamente rígido que o inibe? Aqui está mais uma vantagem. Pode gerir o seu tempo e decidir quando, como e onde trabalha. Se é mais nocturno ou madrugador. Se tem de trabalhar mais em Dezembro ou em Agosto. Se mantiver a disciplina, regra geral, isto implica que se possa ser mais produtivo e que se sinta mais recompensado com as suas escolhas.

Transmitir valores/gerar emprego e receita: a partir de uma determinada altura na vida, para além de querermos criar a nossa sustentabilidade profissional e financeira, é muito comum a necessidade de contribuir para os outros, para o sector da sua actividade e para a sociedade em abstracto. O empreendedorismo pode levar muitas vezes a este caminho de criação de valor financeiro e sociocultural para o seu entorno, o que normalmente traz grande satisfação pessoal e interior.

Aprender com os erros e alcançar sonhos: sair da sua zona de conforto não é para todos. Mas quem tem a capacidade de sair dela, e ultrapassar o medo, terá grandes recompensas. Parecendo um lugar comum, na verdade sabemos que quem mais procura, mais conhece, mais aprende e mais se desafia é também quem acaba por obter um maior grau de satisfação pessoal e profissional e, muitas vezes, atingir patamares que nunca esperou serem possíveis.

Agora é mais fácil: podemos dizer que, se tem vontade e perfil, nunca foi tão fácil alcançar o sonho, sem ter capital para investir e sem grande conhecimento num dado sector ou até apadrinhamento. Nos últimos anos, com a ajuda dos recentes modelos de inovação no mundo dos negócios, há muitos pequenos/médios empreendedores a poder avançar com facilidade e pôr em prática as suas ideias, graças ao desenvolvimento deste ecossistema das Startup, bem como aos fundos de estados, fundações e investidores de todo o tipo e aos incontáveis recursos que todos os dias surgem no mundo digital ao alcance de qualquer um. A grande vantagem é que há muita informação acessível – quase tudo se aprende sem grandes custos e há mentores com muita experiência a dar o seu conhecimento a este tipo de iniciativa.

Quer avançar?

Para além de gerir o seu auto-conhecimento e nível de motivação, antes de se lançar pesquise fontes credíveis e imprensa de referência – livros, jornais, sites e blogues – e tenha em conta os testemunhos de quem já avançou. Entretanto, vá estando a par das tendências e ajudas que a economia digital democratiza. Se quer um empurrão para arriscar, não se esqueça de que, para além do reforço do investimento que o governo português anunciou na mais recente edição do Web Summit, com mais 100 milhões de euros, também o Banco Europeu de Investimento anunciou 190 milhões de euros para pequenas e médias empresas portuguesas inovadoras.