Os Mortos Vivos portugueses, crónica por Rita Damásio

Um mundo de emoções, sensações e interpretações.

“(som de passos) Grândola Vila Moreeeeena, terra da fraternidadeeee, o povo é quem mais ordena, dentro de ti ó cidadeeee”… Duas emoções transbordam em mim, desilusão e revolta.

Sempre que oiço esta música o meu peito enche-se de ar e os meus olhos ficam molhados. O som de fundo são passos de pessoas que vão aumentando de intensidade. Os passos de uma multidão, de um povo, a marchar. Marcha pela e para a liberdade!

Sinto a força e a convicção daqueles que com coragem foram levados para a prisão. Acreditavam num país livre! Privados dos prazeres da vida e das suas famílias, 32 portugueses morreram de forma indigna no campo do Tarrafal. Na sua maioria presos por protestarem nas ruas. Estas pessoas foram sacrificadas por lutarem pela liberdade de expressão neste país.

Se hoje essas pessoas se erguessem dos seus túmulos não seriam, eles, os mortos vivos.

Mortos vivos são os portugueses que no passado domingo dia 4 de Outubro de 2015 não se abstraindo do que lhes apetecia fazer decidiram não se dirigir a uma urna e exercer o seu direito de voto. 43% da população do país inteiro não votou!!!

Temos uma comunidade zombie em Portugal. Metade das pessoas com que me cruzo pertencem a essa comunidade. Seres sem vontade própria ou personalidade, em estado catatónico e que não fazem mais do que criar medo e insegurança dentro de um povo.

Só consigo perceber este vazio se me disserem que estas pessoas não sabem que se não existisse liberdade de expressão, o “Facebook” provavelmente não existiria, os filmes que estão nos cinemas ou as revistas que têm na cabeceira também não existiriam… bem como muitas das outras coisas com que ocuparam o seu tempo quando não foram votar.

Primeiro quis acreditar que foi por falta de informação que não o fizeram mas depois lembrei-me que existe liberdade e com ela o poder da informação.

Estes portugueses arrastam os pés. Já não os oiço a marchar!!!
Não têm força? Agarrem-se aos vossos. Está na hora de se erguerem. Marchem com os vivos e honrem os nossos mortos.

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