Bruno Soares – Canada – Montereal

Bruno Soares – Canada – Montereal

1 – Gostaria de saber a sua idade, naturalidade

Tenho 31 anos e sou natural de Alemanha, filhos de pais portugueses emigrados neste pais. Voltei no entanto para Portugal ainda cedo com cerca de 1 ano de idade

2 – Pode-nos falar um pouco sobre o seu percurso académico e profissional?

Relativamente ao meu percurso profissional eu fui uma pessoa que começou a trabalhar bastante cedo. Comecei com cerca de 16 anos em diversos part-times conciliados com os estudos, entre eles bares restaurantes.
A primeira experiência pertinente surge em 2000 e foi numa empresa ligada às tecnologias de Informação em Leiria, A Incentea SA, na altura ainda Leirisic SA, onde estive durante cerca de 6 anos. A par desta actividade frequentava a minha licenciatura em gestão de empresas em regime nocturno no Isla Leiria que conciliava ainda com um part-time num bar de uns grandes amigos aos fins de semana.
Ao fim de alguns anos decidi tentar entrar na banca, onde encontrei alguma dificuldade dado o facto de a procura ser já reduzida e não ter experiência nesta área. Em 2006 decidi deixar o meu emprego para efectuar um estagio de 12 meses para uma empresa do Grupo BPN SA, o trabalho correu bastante bem e ao fim de 6 meses tive a oportunidade de poder escolher entre sair do estagio para trabalhar no Banco Primus ou aceitar um convite que me foi feito para ficar no BPN. Escolhi ficar no BPN e foi aqui que começou a minha experiência na área da Banca. Em 2008 candidatei-me ao Finibanco onde fui aceite para Gestor de Negócios (pequenas empresas) tendo mais tarde sido promovido para sub-gerente pela integração do Finibanco no Montepio.
A par da experiência profissional frequentei duas Pós Graduações no Iseg Lisboa em regime nocturno que correspondem à parte lectiva de um mestrado em Controlo de Gestão e Finanças

3 – Desde quando vive no Canada e por que decidiu ir?

Encontro-me no Canada em Montreal desde Outubro de 2012. A decisão de vir para Montreal teve origem em várias situações, entre elas a situação actual do pais, a situação profissional da minha namorada e a necessidade de ela renovar a sua residência neste pais, uma vez que ela é natural de Montreal Canada.

4 – Dado que emigrou com a sua parceira, conte-nos um pouco sobre o processo de decisão para tomarem esse passo juntos.

Tudo começou em Outubro de 2011 quando fizemos uma viagem de uma semana a Montreal, sendo essa a primeira vez que eu visitava este país. Aproveitei na altura para conhecer a cidade, sendo que fiquei bastante agradado. Uma semana apos termos voltado a Portugal ela recebe a informação de que a empresa onde ela trabalhava como directora de serviços iria ser vendida e o seu contrato iria ser rescindido. Nesta altura fez-se um grande esforço no sentido de encontrar um emprego de forma a que pudéssemos manter uma vida confortável em conjunto, a qual sem sucesso. Durante algum tempo conversamos sobre a nossa situação e colocou-se a hipótese, dado o insucesso na procura de emprego e na necessidade que ela teria em renovar a sua residência Canadiana, de nos mudarmos para Montreal. Foi uma ideia que me assustou no inicio. Decidimos através da embaixada Canadiana em Paris pedir a minha residência para Montreal, um processo de alguma forma complexo que correu bastante bem pese embora o tempo necessário e os custos dos mesmos.

A documentação exigida foi bastante e entre a qual foram solicitadas fotos com data, contas bancarias em comum, testemunhos de pessoas e registos de correspondência para provar a nossa relação. Para alem disso todos os documentos originais tinham de ser acompanhados de copias certificadas por um advogado ou notário e traduções integrais dos documentos sobre as quais o tradutor teve de prestar juramento na embaixada Canadiana em Portugal.
Durante uma serie de meses não tivemos qualquer feedback ate que um dia recebemos em casa uma carta de aceitação com a data limite de 4 Nov de 2012 para entrada neste pais.

5 – Conhecia alguém no Canada que tenha ajudado na sua integração?

Com o decorrer do tempo conheci pessoas da família da minha namorada residentes em Montreal as quais me têm prestado um enorme apoio, no entanto a maior ajuda à integração vem da parte dela que conhecia já bastante bem a forma de viver em Montreal.

6 – Estando no outro canto do mundo, no processo de emigração, sentiu alguma vez a pressão de estar tão longe de casa?
Essa pressão sente-se, penso que passa a fazer parte de nós quando deixamos a nossa terra natal, família e amigos. No entanto Montreal vive de uma enorme mistura de culturas que vão desde um grande numero de Portugueses a Espanhóis, Italianos, Irlandeses, Gregos, Franceses, Indianos, Marroquinos ect…. O que nos permite ter diariamente algo relacionado com a nossa cultura.
7 – Para si quais os pontos positivos que o Canada tem enquanto país?

Dada a dimensão do pais e dado que desconheço as restantes regiões do Canada eu vou falar apenas na província de Québec onde se situa a cidade de Montreal.
Relativamente a Montreal a e Quebec, e ao contrario daquilo que era minha ideia inicial, existe para oferecer uma enorme diversidade turística e multicultural sendo Montreal uma das cidades mais multiculturais em termos globais.
Aqui podemos encontrar desde a zona do Plateau, conhecida pela comunidade portuguesa, a zona Italiana da Little Iltaly, Chinatown, entre outras, para alem de inúmeros espectáculos de Inverno e Verão como Festival de Jazz, um dos maiores do mundo, Juste pour rireFestival Montréal en lumière, celebrações do St Patricks Day entre outros dos quais alguns mais globais e outros mais específicos para determinadas culturas.
Para quem gostar de Inverno, o qual é bastante rigoroso, há uma oferta turística enorme nos arredores de Montreal.
Relativamente ao situação actual de Portugal penso que podemos encontrar uma estabilidade diferente no que respeita às situações profissionais e em termos de desenvolvimento de carreira, a área financeira e serviços, a medicina, o turismo, a aeronáutica, o retalho e construção são sectores bastante desenvolvidos na região de Montreal

8 – Foi difícil a adaptação a um novo país, a uma nova forma de estar na vida e no trabalho?

Foi principalmente pela distancia das pessoas que penso que são quem mais no agarra às nossas origens. No entanto quando cheguei foi-me prestado um conjunto de apoios, que começaram ainda antes de sair do Aeroporto, que o país tem preparado para novos residentes sendo de salientar, e dada a natureza Francófona da região de Québec, um curso de Francês de 2 meses e meio totalmente subsidiado pelo Governo Canadiano.

9 – Tem alguma experiência caricata que nos possa contar sobre a sua mudança para o estrangeiro?
Conseguir responder por telefone a uma primeira entrevista de trabalho em Francês quando apenas sabia dizer Bonjour e Au revoir com ajuda da minha namorada e a inventar desculpas de que estava num sitio com muito barulho para que a pessoa pudesse repetir.

10 – Com que frequência vem a Portugal e o que lhe faz mais saudades do nosso país?

Dado que apenas estou aqui acerca de 6 meses ainda não tive hipótese de voltar a Portugal

11 – Do ponto de vista de uma pessoa que esta empregada no Canada, o que e que o nosso país tem de errado?

Na minha opinião é o modelo que aplicamos, pela experiência que vou tendo do Canada vou-me apercebendo que em termos económicos e de empregabilidade das pessoas as diferenças são enormes, o modelo aplicado é bastante diferente do modelo que estamos habituados em Portugal sendo privilegiado a multidiversidade entre as pessoas e a igualdade em termos de emprego.

Penso que as diferenças começam ainda durante a escola onde existe um grau académico situado entre o secundário e a licenciatura onde o estudante pode escolher um conjunto de disciplinas do seu interesse, as quais, quando obtido um mínimo de créditos lhe conferem determinadas especialidades sendo-lhe possível integrar de imediato o mercado de trabalho. Normalmente é apos o inicio da vida profissional que se passa para os estudos superiores sendo que dai vem a vantagem de cada pessoa poder melhor escolher a sua área de estudos, ou seja os estudos em função da profissão e não a profissão em função dos estudos.

Os contractos de trabalho são simplificados e existe uma flexibilidade maior, quer para empregado quer para empregador.
É considerado perfeitamente normal uma pessoa ter dois empregos, situação que acontece com a minha namorada. Os princípios de cada pessoa, incluindo religião, são respeitados. Tenho como exemplo um caso de um colega meu de trabalho que diariamente pára meia hora para fazer um ritual religioso muçulmano e isso e respeitado por todas as pessoas com quem ele trabalha..

Em termos económicos sente-se uma dinâmica diferente, mais dedicada à criação de emprego. A remuneração do trabalho rege-se por horas trabalhadas e os salários são pagos semanalmente ou quinzenalmente.
Principalmente no sector dos serviços e retalho a estrutura esta montada de forma que a economia rode constantemente. Por ex.: O retalho aos fins de semana fecha às 5h da tarde e às quintas e sextas está aberto no máximo ate às 9 da noite sendo as folgas distribuídas pelos dias uteis durante a semana, nenhuma empresa do sector do retalho ou centro comercial esta aberto até meia noite.

Se juntarmos todos estes factores temos:

– Empresas que contratam mais pessoas, por ex: duas pessoas fazer um turno geral 10h de trabalho em vez de ter um funcionário a fazer as 10h sozinho o que contribui para melhor  distribuir rendimentos.

– Trabalhadores do retalho e serviços, que constituem uma grande fatia da população, com folgas variadas pelos vários dias da semana o que faz com que haja constantemente consumo na restauração e no restante retalho.
A Carga Fiscal sobre o bens de consumo é de cerca de 15 %, sendo a maioria do bens de alimentares isento de Imposto e não considerando que a região de Quebec já é por si uma das mais caras do Canada.
Os impostos sobre a riqueza estão mais bem estruturados sendo perfeitamente normal para uma família da classe media alta pagar por ex anualmente cerca de 8.000 / 9.000$ de um imposto equivalente ao IMI enquanto que uma família de classe mais baixa poderá pagar por ex. 700/800$

12 – O que aconselha aos portugueses que vivem em Portugal e encontram-se desempregados?
Relativamente a esta questão tenho a opinião que devemos continuar a apostar no nosso país, pois como referi não foi a minha situação profissional por si só que me motivou a vir para o Montreal, no entanto caso uma pessoa da minha geração se encontre nos cerca de 35% de desemprego jovem penso que deverá ponderar procurar soluções fora de Portugal.

Li recentemente que o desemprego estabilizou em termos gerais mas que o desemprego jovem continua a aumentar ou seja na prática as empresas poderão estar a tentar manter apenas os seus efectivos e muitos jovens em inicio de carreira viram os seus contractos a não serem renovados. Penso por isso ser importante salientar que esta geração poderá ver a sua vida futura comprometida e que devem ter isso em linha de conta.